domingo, 20 de março de 2011

21 DE MARÇO - DIA DA ÁRVORE E DE TODOS OS POETAS

A minha infância sempre foi povoada de árvores. Havia duas altas e mágicas palmeiras que ladeavam um solar na rua onde eu morava. Havia uma tangerineira feita de aromas e brincadeiras. Sempre houve uma cerejeira que enchia cestos de vermelhas e sumarentas cerejas que faziam de brincos de princesa.
Posteriormente fui recebida por uma nova rua, percorrida por plátanos em ambos os lados. Mais atrás, um abeto plantado há quase três décadas. Foi, em muitos Dezembros o meu pinheiro de Natal e, em muitas outras noites, a moldura da lua. Tenho tantas saudades dos seus braços! Sabia tanto de mim! Soube há dias que foi cortado…
Imaginem uma amendoeira muito frágil que só com uma leve brisa verga o seu corpo. Imaginem essa amendoeira tombada no chão com as suas finas raízes dolorosamente arrancadas por uma noite de tempestade. Agora imaginem essa pequenina árvore colocada no seu lugar, atada a uma cana com um cordel. Essa árvore por lá ficou e sofreu outras noites de vento. Atava-se outra e outra vez. Reforçava-se o cordel. Hoje é a árvore mais frondosa e maior do meu jardim. Só deu ainda uma amêndoa, uma vez, por mais estranho que pareça. No entanto, a lição de vida que daqui retirei continua a dar muitos frutos!

Conhecem algum corpo que se transforme quatro vezes por ano de forma sempre tão bela?
Eu conheço: A ÁRVORE.

De entre muitos temas da nossa literatura, a árvore e a relação do ser humano com a mesma é um deles. Segue-se um excerto de prosa e alguns poemas.




"Este velho, que quase toco com a mão, não sabe como irá morrer. Ainda não sabe que poucos dias antes do seu último dia terá o pressentimento de que o fim chegou, e irá, de árvore em árvore do seu quintal, abraçar os troncos, despedir-se deles, das sombras amigas, dos frutos que não voltará a comer."

                              José Saramgo, As Pequenas Memórias
                                                                                                    


Estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas... 




O homem, a fera, e o insecto, à sombra delas
Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

 
Não choremos, amigo, a mocidade!
Envelheçamos rindo! Envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

 
Na glória da alegria e da bondade,
Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!



                                                                 Olavo Bilac





Quem me dera ter raízes,
que me prendessem ao chão.
Que não me deixassem dar
um passo que fosse em vão.




Que me deixassem crescer
silencioso e erecto,
como um pinheiro de riga,

uma faia ou um abeto.

Quem me dera ter raízes,
 raízes em vez de pés.
Como o lodão, o aloendro,
o ácer e o aloés.

 Sentir a copa vergar,
 quando passasse um tufão.
 E ficar bem agarrado,
 pelas raízes, ao chão.
 

                            Jorge Sousa Braga




     Horas mortas... curvadas aos pés do Monte
     A planície é um brasido... e, torturadas,
     As árvores sangrentas, revoltadas,
     Gritam a Deus a bênção duma fonte!
     E quando, manhã alta, o sol postonte
     A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
     Esfíngicas, recortam desgrenhadas
     Os trágicos perfis no horizonte!
     Árvores! Corações, almas que choram,
     Almas iguais à minha, almas que imploram
     Em vão remédio para tanta mágoa!

                              Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
                              - Também ando a gritar, morta de sede,
                              Pedindo a Deus a minha gota de água!

                                                       
                                                                                         Florbela Espanca

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